A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
aceitou nesta sexta-feira 15, denúncia do Ministério Público Federal (MPF)
contra 12 dos 17 acusados de envolvimento no desvio de dinheiro público
investigado pela Operação Navalha. Entre os réus estão o atual prefeito de
Aracaju e ex-governador de Sergipe, João Alves Filho, e o empresário Zuleido
Veras, dono da construtora Gautama, apontado como chefe do suposto esquema.
Também vão responder à ação penal Flávio Conceição de
Oliveira Neto, conselheiro do Tribunal de Contas de Sergipe; os empresários
João Alves Neto e Sérgio Duarte Leite; o ex-deputado federal José Ivan de
Carvalho Paixão; os então ocupantes de cargos públicos Victor Fonseca
Mandarino, Renato Conde Garcia, Max José Vasconcelos de Andrade, Gilmar de Melo
Mendes e Kleber Curvelo Fontes; e o engenheiro da Gautama Ricardo Magalhães da
Silva.
Flávio de Oliveira Neto, apesar de ter sido aposentado
compulsoriamente do cargo, recorre judicialmente da decisão do TCSE. Em razão
disso, a Corte Especial entendeu por afastá-lo das funções até a conclusão da
instrução da ação penal, que pode durar mais de um ano.
Os ministros rejeitaram a denúncia contra cinco dos 17
acusados. São eles os funcionários da Gautama Florêncio Brito Vieira
(office-boy), Gil Jacó Carvalho Santos, Humberto Rios de Oliveira e Maria de
Fátima César Palmeira, além de Roberto Leite, ex-diretor técnico da Companhia
de Saneamento de Sergipe (Deso).
A operação - A investigação da Polícia Federal apontou a existência de um grupo organizado para a obtenção ilícita
A operação - A investigação da Polícia Federal apontou a existência de um grupo organizado para a obtenção ilícita
de lucros através da contratação e execução de obras
públicas. O inquérito foi deslocado para o STJ devido à constatação do
envolvimento de autoridades – governadores e conselheiro de TCE – com foro
privilegiado. Em 2007, a Operação Navalha foi deflagrada, com prisões de
suspeitos e buscas e apreensões de documentos. No total, 61 pessoas foram
denunciadas.
A atuação do grupo seria tão ampla que a denúncia foi
dividida por eventos, conforme o local de execução das obras que tiveram
recursos públicos desviados. Em razão da prerrogativa de foro do conselheiro
Flávio Conceição de Oliveira Neto, apenas o chamado Evento Sergipe ficou no
STJ.
O alvo da investigação desse evento foi a execução das
obras do Sistema da Adutora do Rio São Francisco. O contrato, no valor de R$
128 milhões, foi firmado em 2001 entre a construtora Gautama e a Companhia de
Saneamento de Sergipe (Deso), sociedade de economia mista que tem 99% do
capital em mãos do Estado de Sergipe. Parte dos recursos da obra vinha de
convênio celebrado com o Ministério da Integração Nacional. Foram pagos à
Gautama R$ 224,6 milhões, em razão de reajustes efetivados.
Relatório elaborado pela Controladoria-Geral da União
(CGU) apontou diversas ilegalidades na concorrência pública da obra, que
direcionaram o contrato para a Gautama. A análise também indicou que grande
parte dos recursos públicos federais e estaduais pagos à construtora foi fruto
de irregularidades. Segundo a denúncia, o desvio foi de R$ 178,7 milhões, quase
80% do valor da obra.
Crimes - O suposto esquema envolveria desde a
identificação das verbas públicas destinadas a obras, coopetação de servidores
públicos, elaboração de projetos, fraude nas licitações e aprovação das obras
até ser concluído com a distribuição das propinas.
O ex-governador de Sergipe e autal prefeito de Aracaju
responde por corrupção passiva, peculato e formação de quadrilha. Seu filho,
João Alves Neto, é acusado de corrupção passiva e formação de quadrilha.
Zuleido Veras e Ricardo Magalhães, acusados de oferecer vantagens ilícitas a
agentes públicos, respondem por corrupção ativa, peculato e formação de
quadrilha. Os demais respondem por corrupção passiva, peculato e formação de
quadrilha.
Respondem por corrupção passiva, peculato e formação de
quadrilha o conselheiro Flávio de Oliveira, o ex-deputado José Ivan Paixão e o
ex-secretário de Fazenda Max Andrade Conceição. Por peculato e formação de
quadrilha respondem os ex-presidentes da Deso Victor Fonseca Mandarino e Gilmar
de Melo Mendes, o ex-diretor técnico da empresa Kleber Curvelo Fontes, o
dono da Enpro Sérgio Duarte Leite e o engenheiro fiscal Renato Conde.
Voto da relatora - Relatora do caso, a ministra
Eliana Calmon afirmou em seu voto que o relatório da Controladoria-Geral da
União (CGU) que apontou as irregularidades na obra está aparado por inúmeros
documentos, com descrição de repasses de recursos e alterações no contrato.
A defesa havia alegado que o relatório da CGU seria falho
por ter sido coordenado por economista e não por engenheiro capacitado para
fazer avaliação de obra. Para a relatora, não há ilegalidade no relatório
elaborado pela chefe da Controladoria de Sergipe porque, como ocupante do cargo
de analista de finanças e controle, a servidora que assina o documento cumpriu
suas atribuições de supervisão, coordenação, direção e execução de trabalhos
especializados. “Ela está qualificada sim pelo seu grau de conhecimentos
técnicos”, disse a ministra.
Outro argumento amplamente defendido pelos advogados era
que o relatório da CGU contrariava diversas auditorias realizadas pelo Tribunal
de Contas da União (TCU). A ministra Eliana Calmon afirmou que as inspeções do
TCU não foram desprezadas e que a corte de contas encontrou, sim,
irregularidade nas obras, como superfaturamento, inclusive vindo a suspender o
repasse de recursos federais.
“Apesar de o TCU, em data posterior, ter autorizado o
prosseguimento das obras, houve a constatação preliminar de irregularidades na
aplicação dos recursos federais”, apontou Eliana Calmon. Ela citou diversos
acórdãos do TCU com constatação de irregularidades e recomendações, inclusive
de realização de novas licitações.
O esquema da Gautama passou pelo Amapá, deu dinheiro a
políticos, firmou contrato com o governo do Estado e parou obra do aeroporto de
Macapá
No dia 21 de maio de 2007, o jornal Folha de São Paulo,
em texto assinado por Thiago Reis, publicava matéria sob o título “TCU aponta
irregularidade em obra da Gautama no Amapá”.
Veja o texto: Fruto de emenda do senador José Sarney
(PMDB-AP), a obra de ampliação do aeroporto internacional de Macapá (AP), cuja
licitação foi ganha pela Gautama, de Zuleido Veras, apresenta irregularidades
graves. É o que aponta o TCU (Tribunal de Contas da União).
As obras e serviços de engenharia de construção do novo terminal
de passageiros, do sistema viário e da ampliação do pátio de aeronaves não
constam das investigadas na Operação Navalha, da Polícia Federal.
Um relatório feito pelo ministro Benjamin Zymler, do TCU, no ano passado (2006), entretanto, apontou sobrepreço, subcontratação, restrição indevida de participantes, indícios de conluio e direcionamento entre licitantes pré-qualificadas na concorrência.
Um relatório feito pelo ministro Benjamin Zymler, do TCU, no ano passado (2006), entretanto, apontou sobrepreço, subcontratação, restrição indevida de participantes, indícios de conluio e direcionamento entre licitantes pré-qualificadas na concorrência.
O consórcio Gautama-Beter venceu a concorrência e o
contrato foi celebrado em 25 de novembro de 2004, no valor de R$ 112,8 milhões.
O fim das obras estava marcado para dezembro do ano passado (2006).
Os problemas são apontados no contrato com a Infraero, que não teve de paralisar a obra em decorrência da auditoria. Os diretores que trabalhavam na estatal na época do contrato negaram as irregularidades.
De acordo com o relatório, o processo "já nasceu viciado por basear-se em um orçamento-base com sobrepreço". "As restrições impostas ao certame licitatório, impedindo a livre concorrência entre as empresas, são tantas que inviabilizam qualquer tentativa de disputa de preços entre as licitantes."
Os problemas são apontados no contrato com a Infraero, que não teve de paralisar a obra em decorrência da auditoria. Os diretores que trabalhavam na estatal na época do contrato negaram as irregularidades.
De acordo com o relatório, o processo "já nasceu viciado por basear-se em um orçamento-base com sobrepreço". "As restrições impostas ao certame licitatório, impedindo a livre concorrência entre as empresas, são tantas que inviabilizam qualquer tentativa de disputa de preços entre as licitantes."
Das 36 empresas que retiraram o edital de
pré-qualificação, só 14 participaram da fase. Depois, foram selecionados apenas
sete consórcios para participar da segunda fase.
Após ser celebrado o contrato com o consórcio
Gautama-Beter, segundo o relatório, foi verificado que, de 150 itens, havia
preços de referência só para 54 (37,5% do valor total). Foi constatado ainda
"expressivo sobrepreço médio de 74%" em relação a preços de
referência.
POLÍTICOS RECEBERAM DINHEIRO - O desvio apontado
pelo TCU nas obras é estimado em R$ 50,9 milhões. Apesar de não ter sido alvo
da Operação Navalha, o Amapá abriga os políticos que, nas últimas eleições
(2006), receberam mais dinheiro da Gautama.
De seis candidatos que receberam doações da empresa, três
são do Estado. O comitê do governador reeleito Waldez Góes (PDT) foi o que mais
recebeu: R$ 200 mil. Ao senador Papaléo Paes (PSDB) - que também concorreu ao
governo- foram destinados R$ 100 mil. O ex-deputado federal Armando Alves
Júnior (PL) obteve R$ 30 mil.
Papaléo diz não conhecer o dono da Gautama. Procurada pela reportagem, a assessoria de Waldez não ligou de volta. A reportagem não conseguiu contato com Alves Júnior. O grupo político de Sarney, autor da emenda para a obra, entregou ao Ministério Público Federal, em 2006, documento que aponta superfaturamento de R$ 63 milhões no contrato da Gautama para construção de pontes no Maranhão. A obra do Amapá não foi mencionada.
A reportagem não consegui u falar com Sarney ontem nem com um de seus assessores. Mais tarde, o então senador Papaléo Paes admitiu ter recebido contribuição da Gautama para a campanha (não foi reeleito), mas diz que o valor fez parte de sua prestação de contas.
Papaléo diz não conhecer o dono da Gautama. Procurada pela reportagem, a assessoria de Waldez não ligou de volta. A reportagem não conseguiu contato com Alves Júnior. O grupo político de Sarney, autor da emenda para a obra, entregou ao Ministério Público Federal, em 2006, documento que aponta superfaturamento de R$ 63 milhões no contrato da Gautama para construção de pontes no Maranhão. A obra do Amapá não foi mencionada.
A reportagem não consegui u falar com Sarney ontem nem com um de seus assessores. Mais tarde, o então senador Papaléo Paes admitiu ter recebido contribuição da Gautama para a campanha (não foi reeleito), mas diz que o valor fez parte de sua prestação de contas.
Lista dos presenteados pela Gautama inclui políticos do
Amapá
Oito dias depois, o jornalista Kennedy Alencar, da Folha
de São Paulo, em Brasília, assinou matéria sob o título “Veja lista de
parlamentares presenteados pela Gautama”, na qual aparecem políticos do Estado
do Amapá. Diz o texto do dia 29 de maio de 2007: A lista da construtora Gautama
com pessoas que seriam presenteadas tem 38 deputados federais e ex-deputados,
18 senadores e ex-senadores, três ministros de Estado, cinco ministros do TCU
(Tribunal de Contas da União) e, pelo menos, 23 governadores, prefeitos,
ex-governadores e ex-prefeitos.
Esses foram os políticos que a Folha conseguiu
identificar após obter a lista da empreiteira de Zuleido Veras, empresário
preso pela PF (Polícia Federal) acusado de fraudar licitações de obras públicas
e de pagar propina a políticos e funcionários públicos.
Ao todo, a lista enumera 225 pessoas, algumas citadas
apenas pelo primeiro nome. Exemplo: os governadores, prefeitos, ex-governadores
e ex-prefeitos podem ser 35 ao todo, mas a Folha identificou 23. Para a PF, a
simples menção na lista não significa que o nomeado seja suspeito. Trata-se
apenas de um ponto de partida, que precisaria ser ligado a evidências, provas e
depoimentos para ter valor na investigação.
Há uma menção a um ministro da Saúde, mas não há citação
de qual foi esse ministro ou do presente recebido. A PF avalia que a lista
apreendida se refere ao final de 2006. Na opinião da PF, a lista é semelhante a
elaboradas por empresas em festas de final de ano. A Folha apurou que, entre os
brindes, haveria canetas, gravatas e bebidas, como uísque. O documento ao qual
o jornal teve acesso não indica quais presentes foram dados aos listados.
Também aparecem catalogados como deputados e senadores
vários políticos que não conquistaram novo mandato ou que estão em outras
posições nos dias de hoje, caso do atual ministro da Integração Nacional,
Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Geddel já disse não ter relação com Zuleido e que
não tem controle sobre brindes que chegam ao gabinete no fim do ano.
Os três ministros de Estado que estão na lista são
Geddel, Alfredo Nascimento (Transportes) e Paulo Bernardo (Planejamento).
Jaques Wagner aparece contabilizado como ministro de Estado. Ele chefiou a
pasta das Relações Institucionais, mas é hoje governador da Bahia. O
ex-ministro Silas Rondeau, que deixou o cargo na semana passado após suspeita
de recebimento de propina, também consta da lista. Os ministros do TCU que
integram a lista são: Walton Alencar Rodrigues (presidente), Augusto Nardes,
Aroldo Cedraz, Guilherme Palmeira e Benjamin Zimler.
A Folha optou por não publicar a lista com
prenomes que não pôde identificar. Há diversas pessoas com apenas o primeiro
nome que aparecem contabilizadas como secretários de Estado e assessores. Veja
quem doAMAPÁ apareceu em parte da lista com nomes identificados pelo
jornal: Gervásio Oliveira (ex-deputado pelo PMDB-AP), José Sarney (PMDB-AP) e
Waldez Góes, governador do Amapá (PDT).
GAUTAMA E CONTRATO COM O ESTADO - Além do contrato
de R$ 112,8 milhões para a construção do novo aeroporto de Macapá, obra
paralisada desde a deflagração da Operação Navalha, em maio de 2007, a empresa
Gautama, em consórcio com outras construtoras, chegou a ter um contrato de R$
143,6 milhões com o governo do Amapá, na gestão do então governador Waldez Góes
(preso três anos depois na Operação Mãos Limpas da Polícia Federal). O contrato
seria para a construção de pontes em diversos pontos da malha viária do Estado.
O contrato foi rescindido de forma unilateral pelo governo da época assim que a
PF deflagrou a operação Navalha
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