sábado, 19 de janeiro de 2013

Carnaval do Povo marca os 243 anos de Mazagão Velho

O Carnaval do Povo, da Banda Placa, marca o ponto alto dos festejos dos 243 anos da Vila de Mazagão Velho, comemorados na próxima quarta-feira, 23. O evento faz parte do calendário oficial do Carnaval e tem o patrocínio do Governo do Estado.

Antes da apresentação da banda, atrações locais, como grupos de capoeira, Batuque e Marabaixo. Este ano, a Placa completa 30 anos e grande parte dessa história foi escrita em Mazagão Velho. O Carnaval do Povo, cuja primeira apresentação acontece neste sábado, 19, no Igarapé da Fortaleza, é um evento organizado há quase vinte anos pela banda liderada pelo músico Carlos Augusto, o "Carlitão".

De acordo com ele, "o apoio do Estado é decisivo para a realização de um carnaval verdadeiramente democrático para a população". O Carnaval do Povo ainda deve percorrer diversos pontos do Amapá e a apresentação principal acontece na Praça Beira-Rio, na terça-feira de Carnaval, após a passagem do bloco de sujo A Banda.

Solenidade cívico-militar

O Governo do Estado, a Prefeitura de Mazagão e comunidade local preparam programação especial para comemorar os 243 anos da Vila de Mazagão Velho, que acontecerá na próxima quarta-feira. Estão previstas solenidades religiosa, cívica e militar. A exemplo do ano passado, devem comparecer ao evento o governador do Estado, Camilo Capiberibe, a vice-governadora, Dora Nascimento, secretários de Estado, a serem recepcionados por lideranças políticas e comunitárias locais.

A programação inicia no domingo, 20, com shows e apresentações artísticas no balneário às margens do Rio Mutuacá. No dia 23, pela manhã, será celebrada missa campal em frente ao cemitério, onde foi construído um mausoléu em homenagem aos primeiros habitantes do lugar; em seguida, formatura do Exército Brasileiro, quando o pelotão de Infantaria do 34º Batalhão de Infantaria de Selva (34º BIS) presta salva de tiros, uma forma dos militares de homenagear os primeiros moradores.


Após a solenidade, a comitiva oficial deverá visitar as ruínas da antiga igreja, datada do século 18, onde foram encontradas as ossadas dos primeiros colonizadores. Pela parte da tarde e à noite, as apresentações dos grupos folclóricos e culturais de Mazagão Novo, Mazagão Velho e Carvão encantam o público, num espetáculo de luzes, cores e coreografias, ao som do Batuque, Marabaixo e Sairé. A finalização dos shows fica por conta do tradicional Carnaval do Povo, com a Banda Placa.


Da África para o Brasil


A Vila de Mazagão Velho guarda um capítulo especial da época do Brasil Colonial: uma cidade foi "transplantada" da África para a Amazônia brasileira. No final do século 18, por volta de 1769, cerca de 160 famílias - aproximadamente 1022 pessoas, entre brancos, índios e escravos - vieram do Marrocos, desembarcando no Amapá, mais precisamente às margens do Rio Mutuacá, na região.


Antes do fim da longa jornada de barco, uma breve parada na cidade de Belém (PA), depois da travessia do Oceano Atlântico. As famílias haviam abandonado a terra natal devido à guerra entre mouros e cristãos, durante a implantação do cristianismo português no Continente Africano. A Vila de Nova Mazagão - hoje Mazagão Velho, a 70 quilômetros da capital, Macapá - foi fundada em 23 de janeiro de 1770, pelo rei de Portugal, Dom José I.


Afinal, qual o motivo dessa odisseia? No início do século 16, Portugal e Espanha voltaram as atenções para o Norte da África, onde várias colônias foram instaladas, para pregar o cristianismo e atender ao comércio. Implantar o cristianismo naquelas terras disputadas com os mouros representava um desafio, que aos poucos se tornava inviável. Mesmo o comércio, por diversas ocasiões, era tão arriscado que, em muitas vezes, se cogitou abandonar aquelas colônias.


Em meados do século 18, praticamente todas as colônias portuguesas no Norte da África, ou haviam caído em mãos inimigas (Safim, Azamor, Alcacer-Cequer e Arzila) ou haviam sido cedidas politicamente (Ceuta, Tânger). Restara, sob o domínio português, apenas Mazagão, no Marrocos (1514-1769). A intensificação dos conflitos em Marrocos coincidiu com um período em que a política portuguesa buscava ampliar o povoamento das fronteiras de sua colônia americana, garantindo assim as reservas do outro que vinha sendo explorado.


Os problemas convergiram para a solução: transplantar para a América a colônia de Marrocos. Construir uma Nova Mazagão na Amazônia. A Nova Mazagão não deveria ser instalada nas proximidades de Belém, deveria ir mais para o Norte, apoiar Macapá na defesa do Canal Norte do Rio das Amazonas (hoje o Amapá).


Para os antigos "guerreiros do cristianismo" estava reservada uma nova "missão": compor a estratégia de defesa da entrada do Amazonas. A Vila Nova de Mazagão, planejada e construída pelo governo português, juntamente com outras vilas, deveria ocupar o território e garantir a soberania portuguesa na Amazônia.


Apesar das vicissitudes, a Nova Mazagão prosperou. Desde 1775 cultivavam algodão e arroz, como uma produção tão importante que abastecia o mercado de Belém. Mas as epidemias também deixaram suas marcas. A mais terrível teria sido a de cólera, em 1781. Grande parte de sua população não resistiu às doenças tropicais, às pestes, e a cidade foi praticamente abandonada e "engolida" pela selva.






Gabriel Penha/Secom



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