Na sessão realizada nesta quarta (23), duas denúncias do
MP – AP contra parlamentares e servidores foram analisadas, mas o julgamento
não foi concluído.
Em sessão realizada nesta quarta (23), o Pleno do
Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP), retomou a análise de duas denúncias feitas
pelo Ministério Público do Amapá contra deputados estaduais, servidores da
Assembleia Legislativa e empresários acusados de diversos crimes, dentre os
quais, Formação de Quadrilha, Fraude em Licitação, Peculato Desvio, Corrupção
Passiva, Lavagem de dinheiro, desobediência e sonegação de documentos.
No primeiro processo, o deputado Moisés Souza é acusado
de sonegação de documentos e desobediência por ter se negado, mesmo diante de
determinação judicial da 4ª Vara Cível de Macapá, a fornecer informações que
comprovem os gastos efetuados pelos deputados estaduais com a chamada “verba
indenizatória”. Em sessão anterior, os desembargadores Agostino Silvério,
Gilberto Pinheiro e Constantino Tork Brahuna (que assumiu a relatoria com a
saída da juíza Sueli Pini), votaram a favor de Moisés Souza, para que a
denúncia fosse rejeitada. Para esses magistrados, o parlamentar não tem a
obrigação de prestar contas ao Ministério Público dos gastos executados pelos
parlamentares.
O julgamento iniciou com o voto do desembargador Raimundo
Vales, que havia pedido vistas do processo. O magistrado, ao contrário dos três
anteriores, votou pela aceitação da denúncia. Disse em seu voto que o gestor
público tem a obrigação de prestar contas, “ainda mais por se tratar de
comprovantes dos gastos com verbas indenizatórias dos deputados. A única
justificativa que poderia ser aceita é a de que o acusado não possuía os
documentos na época, o que não é o caso”, salientou. Vales reforçou seu
entendimento, afirmando que a rejeição da denúncia revela-se prematura nesta
fase do processo. “Na dúvida, devemos utilizar o princípio que favoreça a
sociedade, posto que há fortes indícios de autoria e materialidade”, concluiu.
A votação foi interrompida em razão da ausência do juiz convocado Décio Rufino,
que havia participado da sessão anterior.
Segunda denúncia: gastos de mais de R$ 4 milhões com
passagens áreas
De acordo com o Inquérito Civil Público (n°045/2012) da
Promotoria de Defesa do Patrimônio Cultural e Público de Macapá, um esquema
criminoso envolvendo os acusados, resultou em desvio que ultrapassa R$ 4
milhões de reais dos cofres públicos. O TJAP iniciou a discussão desta segunda
denúncia feita pelo MP-AP no dia 19 de dezembro de 2012. Dentre os acusados,
estão os deputados Moisés Souza e Edinho Duarte, respectivamente, presidente e
primeiro secretário da mesa diretora, afastados das funções por decisão judicial.
Naquela ocasião, a então desembargadora Sueli Pini,
relatora do processo, aceitou a denúncia por considerar presentes todos os
requisitos para a instauração de mais uma Ação Penal contra os envolvidos.
Dentre as alegações, os acusados afirmam ofensa aos princípios do contraditório
e ampla defesa, ambos descartados pela relatora, “(...) é absurdo e
desarrazoado posto que a prova que embasa a denúncia sempre esteve disponível
para consulta dos acusados”, disse. Em seguida, o desembargador Gilberto Pinheiro
pediu vistas do processo, e a votação foi suspensa.
Retomada a discussão nesta quarta (23), Gilberto Pinheiro
trouxe os autos ao plenário e votou pelo não prosseguimento da ação. O agora
relator do caso, Constantino Brahuna foi além, e mudou o entendimento da
relatoria, votando também pela rejeição da denúncia. Para ele, não está
devidamente comprovado o envolvimento dos acusados nos crimes descritos. Em
seguida, o, magistrado Raimundo Vales antecipou seu voto e acompanhou o
relatório original de Sueli Pini, ou seja, pela recepção da denúncia e
consequente instauração da Ação Penal contra os parlamentares e demais
envolvidos. A votação foi novamente suspensa, dessa vez, com pedido de vistas
feito pelo desembargador Luis Carlos.
O Esquema
Informações extraídas do Inquérito Civil demonstram que a
Assembleia Legislativa, nos anos de 2011 e 2012, na gestão dos denunciados
Moisés Souza e Edinho Duarte, manteve contrato fraudulento com a empresa
Tapajós Agência de Viagens para fornecimento de passagens aéreas. Para isso,
foi firmado, em 23 de março de 2011, em caráter emergencial, ou seja, com
dispensa de licitação, um contrato no valor de R$ 2 milhões de reais, com
vigência até setembro daquele ano.
“Logo nesse primeiro momento, revela-se nitidamente que a
contratação emergencial feriu gravemente as regras da Lei 8.666/93, pois não
atendeu os pressupostos da dispensa de licitação, tampouco se demonstrou na
justificativa a efetiva potencialidade do dano e, ainda, que a contratação era
a via adequada para eliminar o risco”, argumentou à época do oferecimento da
denúncia, a procuradora-geral de Justiça Ivana Cei.
Além disso, a ação do MP revela em detalhes que os
parlamentares também fizeram uso de verba indenizatória para restituir despesas
com passagens aéreas. “Ora, se o contrato foi realizado em caráter emergencial
para compra de passagens aéreas, como justificar que no mesmo período os
deputados tenham utilizado da própria verba indenizatória para o mesmo fim?”,
questiona o promotor de Justiça Flávio Cavalcante.
Não bastasse a irregularidade já apontada no primeiro
contrato, no mês de agosto de 2011, a ALAP novamente beneficia a empresa
Tapajós ao aderir a ata de registro de preços referente ao pregão presencial
003/2011 do Laboratório Central de Saúde Pública – LACEN . Para o Ministério
Público, essa adesão foi apenas a forma encontrada para manter uma perniciosa
relação com a empresa.
“Como se sabe, as aquisições ou contratações adicionais
não poderão exceder, por órgão ou entidade, a 100% dos quantitativos
registrados na Ata de Registro de Preços originária. E a ALAP, através desse
segundo contrato, pagou, em passagens aéreas, mais de R$ 3 milhões de reais à
Tapajós, valor imensamente maior que o estimado pelo LACEN, que, nos anos de
2011 e 2012 teve agenciado pela mesma empresa apenas o montante de R$
97.195,25”, explica Flávio Cavalcante.
Somando os dois contratos, conforme revela a quebra de
sigilo bancário da ALAP, a instituição pagou para a agência de viagens Tapajós
R$ 5.070.459,90 (cinco milhões, setenta mil, quatrocentos e cinqüenta e nove
reais e noventa centavos). Deste valor, calcula-se que mais de R$ 4 milhões de
reais tenham sido desviados.
No curso das apurações, o MP solicitou informações das
empresas TAM e GOL para saber, ao certo, quantos bilhetes haviam sido emitidos
pela Tapajós para as duas companhias aéreas. Em resposta, as empresas
informaram que totalizou pouco mais de R$ 1 milhão de reais o volume de vendas
efetivamente realizado pela agência.
“Imaginando-se que a empresa Tapajós agenciasse passagens
aéreas apenas para a Assembleia, sem que houvesse outros contratos com órgãos
públicos e desmerecendo as chamadas vendas de porta – diretamente ao cliente,
observa-se um desvio mínimo dos cofres da ALAP de R$ 4.052.135,84 (quatro
milhões, cinquenta e dois mil, cento e trinta e cinco reais e oitenta e quatro
centavos)”, conclui André Luiz, promotor de Justiça que também assina a ação.
O MP acrescentou ainda na denúncia, ofício encaminhado
pelo atual presidente da ALAP, deputado Junior Favacho, informando não constar
na Casa de Leis qualquer registro ou documento sobre a aquisição das referidas
passagens aéreas.
Saques volumosos
A denúncia também revela que vultosos saques em dinheiro
eram feitos logo após os pagamentos realizados pela ALAP. Entre abril de 2011 e
março de 2012, a empresa, através de sua sócia e administradora, denunciada
Maria Orenilza, sacou na boca do caixa a quantia total de R$ 3.577.786,23 (três
milhões, quinhentos e setenta e sete mil, setecentos e oitenta e seis reais e
vinte e três centavos).
“A repetição desses saques, sempre imediatamente após os
pagamentos religiosamente efetuados pela ALAP, leva a conclusão lógica de que o
dinheiro sacado se destinava a alimentar a perniciosa horda de saqueadores do
erário público que se instalou naquela casa de leis”, manifesta o promotor.
Ao ser ouvida, Maria Orenilza disse no primeiro momento
que vendia entre R$ 300 e R$ 400 mil por mês de passagens aéreas para a ALAP.
Num segundo momento, reservou–se ao direito de permanecer em silêncio, quando
indagada, sobre o conteúdo do livro caixa da empresa, apreendido durante a
Operação Eclésia, onde não constava qualquer controle de venda de passagens
para a ALAP, bem como da resposta encaminhada pelas duas companhias aéreas.
Os denunciados
Deputados Moisés Souza e Edinho Duarte ordenaram os
pagamentos e assinaram os cheques. Como nos esquemas já denunciados, os
assessores não seriam capazes, sem apoio e conhecimento da direção da Casa, de
realizar em um período tão extenso, as fraudes nos procedimentos licitatórios e
o desvio de avultadas somas de dinheiro público.
Acusação: Formação de Quadrilha, Fraude em Licitação,
Peculato Desvio, Corrupção Passiva e Lavagem de dinheiro.
Lindemberg Abel do Nascimento, à época Chefe de Gabinete
da ALAP, expediu o Memo nº 006/11-PRESI-AL, em 18 de fevereiro de 2011, dando
início ao processo fraudulento.
Acusação: Formação de Quadrilha, Fraude em Licitação,
Peculato Desvio, Corrupção Passiva e Lavagem de dinheiro.
Janiery Torres Everton, então presidente da Comissão de
Licitações da ALAP, que também teve a oportunidade de estancar o curso da
fraude, mas, ao contrário, adotou as providências necessárias à contratação da
TAPAJÓS (ECOTUR) em caráter emergencial, sem atentar para as regras da Lei das
Licitações.
Acusação: Formação de Quadrilha, Fraude em Licitação,
Peculato Desvio, Corrupção Passiva e Lavagem de dinheiro.
Edmundo Ribeiro Tork Filho, no exercício do cargo de
secretário de Orçamento e Finanças da ALAP, além da atuação nos procedimentos
licitatórios fraudulentos, autorizou os pagamentos, assinando os cheques
juntamente com os denunciados Moisés Souza e Edinho Duarte.
Acusação: Formação de Quadrilha, Fraude em Licitação,
Peculato Desvio, Corrupção Passiva e Lavagem de dinheiro.
Maria Orenilza de Jesus Oliveira, sócia
administradora da empresa Tapajós Agência de Viagens e Turismo Ltda (ECOTUR),
braço empresarial do esquema. Foi beneficiada com a fraude e recebeu mais de R$
4 milhões por serviços não prestados à Assembleia Legislativa.
Acusação: Formação de Quadrilha, Fraude em Licitação,
Peculato Desvio e Lavagem de dinheiro.
Investigações do MP revelam mais de R$ 12 milhões em
desvios na gestão de Moisés Souza
O trabalho de apuração dos documentos apreendidos em maio
de 2012, durante a chamada Operação Eclésia, permitiu que o Ministério Público
ofertasse, até o momento, onze denúncias contra deputados estaduais e demais
pessoas envolvidas em casos de corrupção no Poder Legislativo amapaense.
Tomando por base apenas as ações em curso, já chega a cerca de R$14 milhões
(quatorze milhões de reais) o montante desviado da AL, entre os anos de 2011 e
meados de 2012.
SERVIÇO:
Assessoria de Comunicação do Ministério Público do Estado
do Amapá
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